domingo, 29 de agosto de 2010

Seleção e a busca pelo estilo perdido

Quando o assunto é seleção brasileira, fala-se muito do seu padrão ou da ausência de padrão de jogo.
Alguns chamam de estilo de jogo ao invés de padrão.
Eu não sei ao certo como chamar ou se há uma maneira correta para nomear essa característica coletiva de uma equipe. O que eu sei é que quando a seleção entra em quadra, eu não sinto confiança no seu jogo.

Tenho 32 anos de idade e a primeira geração que vi jogar foi a do Oscar. Lembro-me de ficar bravo com a quantidade de arremessos que ele, Marcel, Paulinho Villas Boas, LuisFelipe faziam nos jogos, assim como com os surpreendentes arremessos de 3 na chegada dos contra-ataques; eu falava comigo "Por quê ele não fez bandeja???" Eu ficava revoltado, achava que não podia ser daquele jeito.

Com o passar do tempo, entendi que aquela forma de jogar era uma estratégia pré-definida. Um tanto quanto kamicaze, mas que os jogadores gostavam, se adaptaram muito bem e que dava certo.
Pegando os resultados de mundiais e olimpíadas de 1986 a 1996 (explicarei depois o porquê dessas datas), o Brasil conseguiu:
1986 Mundial Espanha - técnico Ary Vidal - 4 lugar
1988 Olimpíada Seul - - técnico Ary Vidal - 5 lugar
1990 Mundial Argentina - técnico Hélio Rúbens - 5 lugar
1992 Olimpíada Barcelona - técnico José Medalha - 5 lugar
1994 Mundial Canadá - técnico Ênio Vecchi - 11 lugar
1996 Olimpíada Atlanta - - técnico Ary Vidal - 6 lugar

Peguei 1986 como o início,  pois foi nessa época que assisti a seleção brasileira pela primeira vez. E fechei com 1996 porque foi o último ano do Oscar na seleção e foi a última grande competição antes da entrada do técnico Hélio Rúbens.

Com exceção de 94, com o técnico Ênio Vecchi, todos foram resultados satisfatórios.

Em 1998 o técnico Hélio Rúbens voltou à seleção, mas com a proposta de renovação e de colocar na seleção um estilo de jogo, já tentado pelo Ênio em 94 e repetido pelo Lula em 2006, mais cadenciado, mais controlado, mais responsável e com uma defesa mais forte. De lá pra cá tivemos os seguintes resultados:

1998 Mundial Atenas (técnico Hélio Rúbens) - 11 lugar
2000 Olimpíada de Sidney - assistimos pela TV
2002 Mundial Indianápolis (técnico Hélio Rúbens) - 8 lugar
2004 Olimpíada de Atenas - assistimos pela TV novamente
2006 Mundial do Japão (técnico Lula) - 17 lugar
2008 Olimpíada de Pequim - quem não desistiu assistiu pela TV de novo

Resultados bem piores do que os citados anteriormente.

Dito isso vem a pergunta: Mas por quê dessa queda???
Algumas coisas me vem à cabeça para buscar a resposta; gostaria que vocês pensassem comigo.

A culpa foi dos técnicos?
Eles erraram ao tentar implantar um estilo de jogo europeu/argentino o qual nossos jogadores não sabem jogar?
Eles erraram nas convocações?
Mas esses técnicos não eram técnicos campeões e reconhecidos como bons técnicos? Esses mesmos técnicos não continuam ganhando títulos em nossos campeonatos regionais/nacionais?
Estamos em 2010 com o campeão olímpico e vice-campeão mundial Ruben Magnano no comando. A proposta é a mesma. Se a seleção fracassar a culpa será dele também?

A culpa é dos jogadores, pois não foram capazes de se adaptar a um estilo novo de jogo?
Por não exigir que se jogasse como jogava antes?
Por não atender às convocações?
Por sair em baladas durante as competições?

A culpa é da CBB por não dar estrutura para os jogadores e técnicos?
Por não estruturar as nossas seleções de base?

A culpa é do ex-presidente Gerazime Bozikis - Grego? Afinal de contas, por coincidência ou não ele assumiu a CBB em 1997  e saiu em 2009.

A culpa é dos presidentes de federações? Por não fomentar de maneira adequada as nossas categorias de base.

A culpa é dos técnicos de categorias de base? Que não ensinam o jogador os fundamentos do basquete, assim como as questões de responsabilidade e postura profissional.

A culpa é da mídia?
A culpa é de ninguém? Somos simplesmente azarados por a bola nunca cair nos momentos decisivos? Azarados por um ter um conjunto de jogadores de sucesso internacional, mas que não conseguiram formar até agora uma equipe vencedora?

Acredito que seja a somatória de tudo isso e de tantos outros pontos não citados.

Voltando ao início do texto, eu vejo a seleção em uma sinuca de bico.
Nossos jogadores não conseguem e não gostam de jogar esse estilo de jogo mais regrado. Jogam de forma travada, como que lutando contra o seu DNA. No entanto acredito não termos arremessadores bons o suficiente para voltar de forma vencedora ao estilo da geração anterior.
O que fazer? Qual a melhor solução?

Espero que a seleção me surpreenda com um ótimo resultado e queime a minha língua. Que ela já esteja achando a sua identidade e que eu esteja completamente enganado ao sentir insegurança em nosso time.
Sou antes de mais nada um torcedor e quero o sucesso da nossa seleção, até porque tenho grandes amigos dentro desse grupo.

Todos temos que assumir a devida responsabilidade para continuarmos buscando as soluções para os problemas do basquete, independentemente do resultado desse mundial.

Londres 2012 está aí!
E 2014 não tarda a chegar.

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